segunda-feira, 13 de julho de 2009

Espelho Espelho meu...

Afinal das contas quem serás que sou eu? "Eu não sei na verdade quem eu sou,Já tentei calcular o meu valor,Mas sempre encontro sorriso e o meu paraíso é onde estou...Por que a gente é desse jeitocriando conceito pra tudo que restou?" (Segundo O Teatro Mágico)

Mas enfim, voltando aos nossos estudos e contribuindo com pesquisas sobre o elemento: o Cálice. Estudando e tentando decifrar os códigos do símbolo Cálice para a formação do ator me deparei em constantes contradições, a simplória afirmação do autor (Côrrea) que instigava o cálice como sendo simplicidade e técnica me fizeram refetir por alguns dias... Hoje vim até o blog para querer dividir com quem passar por aqui o que sinto com relação a este elemento.

O Cálice é (como já havia mencionado) "o mais complexo para mim, trata-se de essência, simplicidade e técnica. Trabalhar com o cálice envolve os nossos próprios sentimentos enquanto seres humanos, aqueles já sentidos em nossa vivência. Vejo o cálice mais claro principalmente depois dos estudos sobre stanislaviski (o ator concentrando suas emoções no trabalho de criação do personagem)".

Pensando assim busquei o cálice como forma ilustrativa e não há figura que melhor poderia representá-lo senão a de um cálice mesmo, Não não, brincadeira.
Indo de acordo com a significação que fiz anteriormente, não há outra figura senão a de um espelho, que reflete aquilo que sou (fisicamente), mas que faz atingir também quem sou interiormente.

Foi através dessa pesquisa que encontrei a seguinte frase, de autor desconhecido: "A forma e o reflexo se observam. Tu não és o reflexo, mas o reflexo és tu." E ainda mais encontrei um texto de Machado de Assis, chamado "O Espelho" que mostra muito o que compreendo nesta etapa de estudos.

O texto retrata a história de um rapaz que torna-se representante das forças armadas e todo o poder dado pela farda que lhe vestia fez seu ego ser seu principal representante, até que diante do espelho começou a notar que transformou-se em duas pessoas, uma interna e outra externa (aquela que se gabava do que se tornou), mas que mesmo com aquela roupa, ou qualquer outra continuava tendo uma essência. Aconselho que leiam o texto completo, vou colocar um link, mas vou dispor um trecho do qual achei muito interessante:

"- Vão ouvir coisa pior. Convém dizer-lhes que, desde que ficara só, não olhara uma só vez para o espelho. Não era abstenção deliberada, não tinha motivo; era um impulso inconsciente, um receio de achar-me um e dois, ao mesmo tempo, naquela casa solitária; e se tal explicação é verdadeira, nada prova melhor a contradição humana, porque no fim de oito dias deu-me na veneta de olhar para o espelho com o fim justamente de achar-me dois. Olhei e recuei. (...)

- Lembrou-me vestir a farda de alferes. Vesti-a, aprontei-me de todo; e, como estava defronte do espelho, levantei os olhos, e... não lhes digo nada; o vidro reproduziu então a figura integral; nenhuma linha de menos, nenhum contorno diverso; era eu mesmo, o alferes, que achava, enfim, a alma exterior. Essa alma ausente com a dona do sítio, dispersa e fugida com os escravos, ei-la recolhida no espelho. Imaginai um homem que, pouco a pouco, emerge de um letargo, abre os olhos sem ver, depois começa a ver, distingue as pessoas dos objetos, mas não conhece individualmente uns nem outros; enfim, sabe que este é Fulano, aquele é Sicrano; aqui está uma cadeira, ali um sofá. Tudo volta ao que era antes do sono. Assim foi comigo. Olhava para o espelho, ia de um lado para outro, recuava, gesticulava, sorria e o vidro exprimia tudo. Não era mais um autômato, era um ente animado. Daí em diante, fui outro. Cada dia, a uma certa hora, vestia-me de alferes, e sentava-me diante do espelho, lendo olhando, meditando; no fim de duas, três horas, despia-me outra vez. Com este regime pude atravessar mais seis dias de solidão sem os sentir..."
(Fonte - texto completo: Domínio Público)

Não sei se fica claro, mas enxergo uma personagem nessa história que se sustenta numa vida de aparências e que esquece do que é, mas que tudo se desaba quando se vê só, pois aí redescobre sua verdadeira essência e pode até contemplar que toda aquela pose que tinha, os amigos e demais que os cercavam não eram verdadeiros, pois sua essência é só, a solidão. Claro que isso não se aplica a todos os seres humanos, mas acho legal a analogia de identidade interna e externa que criamos ao decorrer da vida e isso forma nossa essência e conduz nossas vivências, sei lá se acertei com a indicação do texto, mas é que mexeu comigo, achei legal dividir.

Por enquanto é isso!

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